deixei-te uma carta

Deixei-te uma carta...
abriste a caixa de correio,
já velha...
e viste o meu nome no envelope...
sei que não precisaste de ler o nome..
sei que reconheces-te a caligrafia...
enquanto tinhas imenso cuidado,
a abrir o envelope,
ias caminhando
até chegar,
aos dois degraus de madeira
que tinhas á porta de casa...
quando lá chegas-te,
já tinhas aberto o envelope...
já estavas a desdobrar a carta,
e já estavas a derramar,
a primeira lagrima...
sabias do que se tratava...
não uma simples carta..
mas uma despedida...
estavas prestes a descobrir,
tudo sobre mim...
sabias que o que ficava por cá,
ia ser para tu,
e apenas tu saberes...
deixas-te a lagrima cair...
e começas-te então,
a ler...
"Sei que precisavas desta carta... sei que precisavas dum ultimo mimo... sei que precisavas dum ultimo carinho no rosto... dum ultimo beijo...enfim, sei que precisavas da despedida...e, fui tão egoista que apenas te deixei uma simples carta, escrita numa folha amarrotada, com uma caligrafia em que se nota bem os meus nervos...sei que se a despedida fosse pessoalmente me conseguias esboçar esse sorriso que me faria mudar de ideias... por isso preferi deixar tudo para trás e dar asas aos meus impulsos!
No dia do "hoje pergunta o que quiseres" não te respondi porque é que por vezes te deixava de falar imenso tempo...sei lá... ainda nao tenho uma resposta... e nunca ta poderei dar, tive o cuidado de te mandar a carta um dia depois de uma semana sem noticias ter passado, assim saberias que se tinha passsado algo, e saberias que talvez nunca mais me fosses ver! Apesar de não acreditar num Deus como tu, antes de fazer o que penso vou pedir para não saltares junto comigo...vou pedir para esse teu Deus tomar conta de ti, e não vou deixar correr mais do que uma lágrima, senão sei que perco a coragem... «as minhas lágrimas são a cura para a minha cobardia»... queres saber os meus segredos?! bem, lembras-te de me teres encontrado perdido no meu estupido vicio? lembras-te? sei que sim... já me disseste que estiveste lá a dar-me o teu calor, a dar-me a tua força, enfim... não me fiquei por ai... e outras vezes me deixei perder nessa estupidez... que me matava por fora e por dentro... para não sentir aquele frio pagava para ir morrendo aos poucos...
Menti-te quando disse que a minha tatuagem nao tinha significado... Essa foi apenas mais uma das minhas estupidas ideias de recordar algo... só depois de fazer as asneiras é que me apercebia... e essa não escapou á regra... a tatuagem pasado um tempo deixou de ter um significado, e a recordação ficou sim, gravada na minha mente!Todos os dias me lembro de quem ma fez, todos os dias sinto saudade, todos os dias beijo a pulseira da minha mãe (mãe de alma) quando acordo e quando me deito...
Já fui tão hipocrita... tão sinico... por vezes dizia adoro-te, por vezes mesmo amo-te a amigos meus, e não passava dum simples gesto de pena, dizia-o apenas para retribuir o que sei que eles sentiam por mim... E eles sorriam, beijavam-me e abraçavam-me apenas pelo simples facto de o que eu dizia os deixar com um certo reconforto e por lhes aquecer mais o coração, quando o unico amo-te (amo-te de amor de homem para «mulher») sincero que eu disse foi para a pessoa com quem vou ter agora, e o outro para a Solange... sim, porque nasceu um amor platónico que ainda hoje me faz chorar... enfim... tenho (tive) uma vida repleta de segredos que não consigo suportar, e por outro lado não os posso contar, por isso te deixei uma carta...Sei que nunca me recusarias um ultimo pedido... portanto peço-te que rasgues o contrato que ambos temos guardado no nosso coração, e que me prometas (a mim ou á minha alma) que nao vais saltar junto!
«Eu vou chegar contigo onde só chega quem nao tem medo de naufragar»
Adoro-te

Pedro Sanches"